terça-feira, 24 de abril de 2007

1. Redes e contextos de educação e formação na Sociedade da Informação

A utilização educacional da novas tecnologias de informação e comunicação surge através do desenvolvimento dos novos ambientes de educação, permitiram a formação das comunidades virtuais de aprendizagem que encontram um espaço adequado para a sua actividade na Web. Neste sentido, uma comunidade de aprendizagem desenvolve-se na sala de aula ou na Web quando todos os membros do grupo, incluindo o professor, se encontram envolvidos num esforço de conjunto construção da comunidade. A comunicação e os processos de interacção, bem como o acesso flexível à informação, são alguns aspectos das actividades organizacionais e de aprendizagem da comunidade virtual.
Nos ambientes colaborativos, a aprendizagem é orientada para o aluno, em vez de estar centrada no professor, e o professor de construção do conhecimento compreende a interacção entre pares, a avaliação e a cooperação, salientando a mudança do foco na interacção professor – aluno para as relações entre os membros do grupo, as quais funcionam como suporte social para o desenvolvimento dos esforços individuais. As novas comunidades da Web apresentam-se como centros de experiência, nos quais a aprendizagem não é separada da acção e o processo de aprendizagem é orientado não só para o aluno, mas também para a comunidade.
Referem que as comunidades de aprendizagem na Web são metáforas alternativas aos sistemas de ensino tradicionais, nos quais as perspectivas de desenvolvimento de métodos e estratégias universais, orientados para um ensino efectivo, sequencial e centralizado não conseguem promover a captura da essência do modelo de actividade proposta para o aluno nas abordagens construtivismo e da aprendizagem situada.
O modelo de organização e funcionamento das comunidades promove a criação e desenvolvimento da transmissão para os seus membros dos processos de orientação e controlo dos objectivos, métodos e estratégias de aprendizagem, transformando a comunidade virtual num sistema complexo e adaptativo, cuja primeira manifestação se realiza nas negociações da significação na aprendizagem e nos ajustamentos individuais e colaborativos na construção dinâmica das representações de conhecimento.
A natureza dos processos de interacção realizados na Web é favorável para o desenvolvimento das comunidades de aprendizagem, na medida em que o princípio da comunicação em rede não só suporta com eficiência o plano da dinâmica das interacções entre os seus membros, sem limites de tempo e distância, como também facilita a ocorrência dos processos comunicativos de natureza colaborativa de natureza no decurso das actividades e experiências na construção do conhecimento.
Dias, Paulo(2001). Comunidade de aprendizagem na Web. Inovação, 14(3),27-44

2. Democratização do acesso à informação e ao conhecimento: a educação na sociedade em rede

Com o aparecimento da Internet como novo meio de comunicação gerou uma enorme polémica nos novos padrões de interacção social. Vários estudos realizados por investigadores académicos mencionam que a expansão da Internet “está a conduzir a um isolamento social e a uma ruptura da comunicação social e da vida familiar” , abandonando a interacção pessoal cara a cara em espaços reais.
A Internet é fundamentalmente utilizada para o trabalho, a família e para a vida quotidiana dos utilizadores.
Segundo Howard, Rainie, Jones; Tracey e Anderson, o correio electrónico representa mais de 85% da utilização da Internet, estando relacionado com o trabalho, tarefas específicas, relações familiares e amigos da vida real.
No entanto, os jogos de pápeis (role playing) e a construção da identidade como base da interacção on-line constituem uma sociabilidade reduzida, sendo este tipo de actividade mais concentrada nos adolescentes. Isto acontece, porque os adolescentes encontram-se numa fase de descoberta da identidade e experimentação.
Um inquérito de Uslaner, menciona “que os utilizadores da Internet costumam ter uma rede de relações sociais mais ampla que os não utilizadores”.
Assim, segundo Di Maggio e outros, referem segundo diversos inquéritos de participação pública, que os utilizadores da Internet “lêem mais livros, assistem a mais acontecimentos artísticos, vão mais ao cinema, assistem a mais espectáculos desportistas e fazem mais desporto que os não utilizadores”.
Nos dias de hoje, o resultado da evolução das relações sociais na sociedade é o auge do individualismo em todas as manifestações.
Por exemplo, no contexto norte-americano as pessoas costumam ter muitos laços interpessoais, mas só meia dúzia são laços íntimos, referem Wellman e Giullia. Com isto, em média, conhecem menos de doze vizinhos e apenas tem uma relação reduzida com um deles.
Contudo, surge um novo sistema de relações sociais centrado no indíviduo, no qual Wellman chama de “comunidades personalizadas”, representando uma privatização da sociabilidade.

Assim sendo, na minha opinião a Internet é um meio para obter informações, para comunicar à distância, estabelecendo relações sociais e de um certo modo um individualismo.

Castells, Manuel (2004). A Galáxia Internet: reflexões sobre a Internet, Negócios e Sociedade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian

3. Abordagens educacionais nas comunidades de aprendizagem em rede


A aprendizagem colaborativa é algo recente no meio académico, foi com o surgimento das tecnologias de informação e comunicação e consequentemente o avanço da Internet, contribuíram para o crescimento do ensino á distância no meio académico. As rápidas e profundas transformações sociais comandadas pelas tecnologias têm exigido das escolas novas posturas, novas metodologias, novas maneiras de ensinar, para que seja possível superar o modelo ultrapassado, que não atende mais ás expectativas dos alunos, tampouco da sociedade e do mercado de trabalho. O conceito de aprendizagem colaborativa ganhou maior importância nos anos 90, entre os professores do ensino superior.
Certos autores caracterizam a aprendizagem colaborativa como sendo uma estratégia de ensino-aprendizagem; para Araújo e Queiroz (2004), “…a aprendizagem colaborativa é um processo onde os membros do grupo ajudam uns aos outros para atingir um objectivo acordado…” Campos et al (2003) considera essa aprendizagem como “… uma proposta pedagógica na qual estudantes ajudam-se no processo de aprendizagem, actuando como parceiros entre si e com o professor, cm o objectivo de adquirir conhecimentos sobre um dado objecto. Alcântara e Cerqueira consideram que a aprendizagem colaborativa é um processo de reaculturação que ajuda os estudantes a se tornarem membros de comunidades de conhecimento cuja propriedade comum é diferente daquelas comunidades a que já pertence. Assume, portanto, que o conhecimento é socialmente construído e que a aprendizagem é um processo sociolinguístico.
A base da aprendizagem colaborativa está na interacção e troca entre os alunos, com o objectivo de melhorar a competência dos mesmos para os trabalhos cooperativos em grupo. Para que se trabalhe de maneira colaborativa com os alunos, é preciso ter em atenção a maneira que os professores e alunos possam: aprender a conhecer (relacionado ao prazer em descobrir, ter curiosidade); aprender a fazer, aprender a viver juntos (que diz respeito ao aprender compreender o outro) e a aprender a ser.
A aprendizagem colaborativa não depende da tecnologia para que possa ocorrer, mas a popularização da Internet e a utilização da mesma pode dar oportunidades para que se crie um tipo de ambiente colaborativo, oferecendo várias vantagens. Acredita-se que, aliada á aprendizagem colaborativa, a tecnologia possa potencializar as situações em que os professores e alunos pesquisem, discutam e construam individualmente e colectivamente seus conhecimentos. O computador pode ser considerado como um recurso para a aprendizagem colaborativa, pois além de servir das mais diversas actividades, pode ser um meio para que os alunos colaborem uns com os outros nas actividades em grupo.
Embora não se possa generalizar, em diversos cursos universitários não há espaço para o diálogo e o que ainda predomina é o ensino tradicional. Pesquisas apontam que para os dias actuais, restringir-se somente a esse tipo de ensino não se tem chegado a resultados satisfatórios.
Por isso, a necessidade de estar trabalhando num ensino inovador, com base num paradigma emergente que possa atender ás exigências do mercado de trabalho e sobretudo, ás necessidades da formação do aluno como cidadão.

4. Os processos colaborativos nas comunidades de aprendizagem em rede





As possibilidades de uso dos weblogs quer como ferramenta, quer como estratégia, ao dispor dos professores, formadores e e-tutores, visa conciliar algumas Teorias de Aprendizagem Cognitiva.

O que são Blogs?

"Blog" é uma abreviatura de weblog, termo que parece ter sido utilizado pela primeira vez em 1997 por Jorn Barger. Trata-se de uma página web que dispensa conhecimentos especiais de linguagem HTML e por isso a sua construção está acessível a qualquer indivíduo com conhecimentos básicos de processamento de texto. Supõe-se que seja actualizado frequentemente e pode conter em si imagens, textos ou apresentações multimédia, apresentados de forma cronológica.
Os utilizadores dos blogs podem optar por tornar o seu blog público ou privado, apesar de ser difícil garantir a privacidade de conteúdos que apesar de tudo se encontram na Internet.

O principal objectivo desta ferramenta é a facilitação da aprendizagem, através do desenvolvimento de competências associadas à pesquisa, selecção de informação, produção de texto escrito, reflexão, debate de ideias e domínio de diversos serviços e ferramentas web.
Segundo Gomes, 2005, os blogs poderão ser utilizados na educação como recurso ou como estratégia.
Enquanto recurso pedagógico os blogs podem ser:
- um espaço de acesso a informação especializada;
- um espaço de disponibilização de informação por parte do professor/formador.
Se optarmos por utilizar os blogs no âmbito de uma
estratégia pedagógica planeada, poderemos incentivar a criação de blogs que:
- constituam portfólios digitais;
- sejam um espaço de intercâmbio e colaboração;
- incorporem um espaço de debate e/ou role playing;
- constituam um espaço deintegração.
Tentando conciliar a autonomia do sujeito defendida por Piaget e a subordinação defendida por Vygotsky, podemos dizer que a aprendizagem se realiza em torno de três ideias fundamentais:
1. que o aluno/formando é responsável pelo seu próprio processo de aprendizagem (o ensino é mediado) pela actividade mental construtiva do aluno/formando, ou seja, ele não é somente activo quando manipula, explora, pesquisa, inventa, mas também quando lê ou escuta as explicações do professor/formador);
2. a actividade mental construtiva do aluno/formando aplica-se a conteúdos que possuem um grau considerável de complexidade resultante de um certo processo de elaboração social;
3. o facto de a actividade construtiva do aluno/fomando se aplicar a conteúdos de aprendizagem pré-existentes condiciona o papel a desempenhar pelo professor/formador, o qual deverá criar condições que permitam ao aluno/formando desenvolver uma actividade construtiva rica.
O professor/formador pode neste caso, desempenhar o papel de “sujeito mais competente” para auxiliar e estimular as aprendizagens dos seus alunos/formandos. O professor oferece as orientações, os meios e os recursos, orienta nas dúvidas e dificuldades, acompanha os alunos/formandos no processo de construção do conhecimento


Um Caso Real

Teresa Sofia Pombo levou a cabo algumas experiências utilizando blogs como recurso pedagógico no processo de aprendizagem da Língua Portuguesa em alunos do 8.º ano de escolaridade.
A primeira experiência em Junho de 2005 quando a autora criou o blog “A Biblogteca” (http://abiblogteca.blogspot.com).
Este espaço pretende ser um apoio às aulas de Estudo Acompanhado leccionadas pela autora.
Apresenta uma série variada de recursos como sugestões de leitura, videos e registos aúdio motivadores da leitura, ligações e sugestões de leitura na web ou textos realizados pelos alunos.
Este blog apresenta ainda outras ferramentas e utilidades como a possibilidade de comentário rápido através de e-mail ou mensagem aúdio, participação num mural de recados ou ligações para o site da escola, da biblioteca online ou de outros sites sobre a temática abordada.
Conclui a autora (Pombo, 2006) que a utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação em geral e o recurso ao blog em particular “trazem, quer ao professor, quer ao aluno, um leque enorme de possibilidades de trabalho e estudo, bem como de aperfeiçoamento e divulgação do trabalho realizado”.


http://educivica.com.sapo.pt/EAT_Blogs.pdf

5. Impacto das comunidades de aprendizagem na educação e formação ao longo da vida

Antes de mais e para contextualizar o leitor é necessário definir comunidades de aprendizagem. Assim, Segundo Dias (2007), uma comunidade de aprendizagem representa um conjunto de indivíduos que interajem num


“ambiente de comunicação em rede, apresentando um forte sentido de
especialização das actividades bem como características de organização próprias
ao espaço virtual no desenvolvimento das interacções sociais e cognitivas.”

No entanto, para que realmente possamos dizer que estamos perante uma comunidade de aprendizagem é essencial que haja uma intencionalidade, envolvimento individual e colectivo dos membros nos processos, contextos e actividades de partilha e construção colaborativas das aprendizagens (Dias: 2007), caso contrário, como Dias salienta ao referir Schwier (2000), estaríamos perante uma rede de informação e comunicação.
Gostaria de me debruçar um pouco sobre a questão da comunicação e, deste modo, reforçar as ideias de intencionalidade e envolvimento dos membro de uma comunidade de aprendizagem referidas Dias (2007).
Na perspectiva de Paulo Freire, na sua obra Pedagogia do Oprimido (1975)

“Somente na comunicação faz sentido a vida
humana.”

Este autor opõe-se fortemente à concepção bancária da Educação onde assistimos o
professor a narrar, a dissertar sobre conteúdos que supostamente domina (Freire:
1975). Neste contexto de “educação”(?) não há comunicação pois o alunos ouve
passivamente o que o professor tem para dizer. Assim, Freire (1975) diz-nos
que

“o pensar do educador somente ganha autenticidade na
autenticidade do pensar
dos educandos, mediatizados ambos pela realidade,
portanto, na
intercomunicação.”


É precisamente aqui que temos que
ter em conta o que Dias nos diz quando fala de intencionalidade e envolvimento
dos membros da comunidade. Por outras palavras, não pode haver comunicação na
forma de comunicados, mas sim uma intercomunicação (Freire: 1975).
É neste
contexto que Dias (2007) nos fala das práticas de mediação colaborativa
que ajuda a orientar as actividades, os conteúdos e contextos de aprendizagem
pretendidos, e onde surge também um aspecto importante para o funcionamente
saudável da comunidade de aprendizagem, a negociação pois como Dias (2007)
salienta

“a emergencia das comunidades resulta da intencionalidade
e práticas de
envolvimento que não se limita à interacção social ou à
aprendizagem
individual, mas estende-se, necessariamente, aos aspectos da
mediação
colaborativa na criação do conhecimento distribuído.”



Este é sem dúvida um assunto que, no dizer popular, daria pano para mangas. Porém
importa reter uma ideia fulcral em toda a temática: o surgimento,
desenvolvimento e crescimento das comunidade de aprendizagem vêm trazer novos
cenários de Educação e Formação ao longo da vida, mais flexiveis espacial,
temporal e, talvez mais importante, socialmente.
Cada um de nós tem os seus
pontes fortes, os quais, neste contexto de Educação/Formação, podem ser postos
ao serviço do conhecimento, enriquecendo os outros e nós mesmos pois este é um
ambiente de partilha.
Neste tipo de ambiente de aprendizagem é possível
abordar uma matéria de forma mais global, com as várias perspectivas a
interagirem, mas também de forma mais profunda na medida em que a construção do
conhecimento é dinâmica e não se reduz a um momento específico no
tempo.

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Textos fonte:
DIAS, Paulo (2007). Da rede de interacções aos contextos de aprendizagem nas comunidades virtuais (texto não publicado)

FREIRE, Paulo (1975). Pedagogia do oprimido. (?) Afrontamento/Porto.